Não me vou apresentar para que me conheçam. Quero sim falar sobre o que me perguntam tantas vezes. Porque vais? Porquê agora?
Abdicar de uma vida confortável, com emprego estável e abandonar as pessoas que nos são queridas nunca é fácil.
Faço-o porque sinto que tenho uma dívida com o mundo.
Sou uma pessoa de sorte.
Sorte por ter uns pais que me deram todas as condições para concretizar os meus sonhos. Com as suas origens humildes, foram eles que me incutiram os valores do trabalho e da simplicidade.
Sorte por ter encontrado um trabalho que me realiza e é bem remunerado.
Sorte por ter conhecido tantas pessoas maravilhosas, que pelo seu testemunho me inspiram todos os dias.
A sorte procura-se (e eu arrisco bastante...) mas sinto que Ele me tem acompanhado.
Ao longo dos últimos anos tenho conhecido um pouco melhor o universo das ONGD. O trabalho que estas instituições desempenham no terreno é de tal forma importante que não consegui deixar de me envolver.
Quando pensei em dedicar um ano da minha vida e partir em missão, decidi inscrever-me na formação dos Leigos para o Desenvolvimento. O percurso formativo é muito completo, diria mesmo que é o melhor em Portugal. São cerca de 8 meses intensos com muitas reuniões, actividades em equipa, angariação de fundos, exercícios espirituais... o processo de decisão e discernimento é muito completo. Os LD foram criados há 30 anos por um Jesuíta, o P. António Vaz Pinto. Actualmente, os LD têm projectos de voluntariado em Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe.
Não parti com os LD e conheci a PROACIS, uma ONGD ligada às Escravas do Sagrado Coração de Jesus. Uma vez que tinha completado o processo de formação dos LD não foi necessário fazer formação específica, a pergunta que me colocaram foi: quando podes partir?
A Proacis está presente em 40 países e tem aproximadamente 32 comunidades com projectos no terreno. Todas as comunidades necessitam de apoios e recursos humanos que os ajudem a implementar os seus projetos nas mais diversas áreas: Educação, Logística, Saúde...
Sendo uma organização católica, não é condição essencial que os seus voluntários o sejam e todos os interessados em fazer algo mais pelo outro têm o seu espaço.
O essencial é simplesmente a vontade de ajudar o próximo: "Em tudo amar e servir".
A PROACIS tinha agora um voluntário disponível para partir.
Uma das suas comunidades respondeu de forma positiva ao apelo: necessitavam de um homem com experiência pedagógica, conhecimentos de informática e inglês.
No início de Setembro, no dia em que regressava do Caminho de Santiago, recebi um email perguntando se ainda tinha disponibilidade em partir.
"- Temos um projecto que me parece adequado para ti."
"- Ah sim? Boa! Para onde e fazer o quê?"
"- Como está o teu espanhol? No Perú."
"- Que bom, sempre gostei da América Latina."
"- Dar aulas e viver num Instituto Fe y Alegria..."
"- Óptimo, posso ajudar imenso."
"- ... no meio da selva Amazónica."
A primeira reacção foi de espanto, pois nem sabia que existiam estes Institutos em zonas tão remotas. Mas depois de ler o Projecto, tudo se conjugava, este projecto tinha sido desenhado para mim.
Tudo estava alinhado. E assim decidi partir por um ano para a selva Amazónica.
Queres ajudar-me a permanecer no Perú? Porque preciso de ajuda.
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